Costumo dizer que os meus 29 anos foram os melhores (até então). Fiz imensas coisas novas, terminei um mestrado à noite, trabalhava de dia, fazia um curso de televisão à noite, viajei que me fartei, “vivi” sozinha uma semana em Quarteira, nasceu o meu sobrinho… foi mesmo espetacular!
No meio disto tudo, decidi ir a um casting para um curso de Teatro de Revista.
Vi o casting, pensei para comigo que ouço desde miúda que sou uma teatreira de primeira e que lata não me falta, e decidi avançar com a coisa. Se corresse mal, paciência. Ganhava pelo menos a experiência da coisa.
Fui, fiz o casting em frente ao (meu agora e para sempre) padrinho de Palco Miguel Dias e fiquei!!!!
Depois de me apresentar, dizer umas falas em modo Alzheimer, de cantar (LOL) Adele e de morrer de vergonha, tudo enquanto estava a ser filmada, lá me disseram que, apesar de estar visivelmente nervosa, que havia potencial e que depois ligavam a dar resposta.
E não é que ligaram mesmo? Eu mal queria acreditar. Menos de uma semana depois ligaram e disseram “Ana, venha cá então inscrever-se que as aulas começam dia X”.
E como sou muito bem mandada, lá fui eu.
Recordo-me que o curso, com duração de 7 meses e uma apresentação final de uma peça de teatro de revista escrita e “feita” por nós, começou a meio de Outubro e terminou no final de Maio.
Era à noite, às terças das 19h às 22h.
A turma não era grande (já não sei de cor quantos éramos, mas garantidamente mais de dez e menos de 20 alunos).
Tenho-os a todos no meu coração.
Os professores eram os famosos Miguel Dias (como já referi), Ana Brito e Cunha e Carlos Areias.
Uma pessoa vê-se frente a estes 3 monstros da televisão e do teatro e borra a cuequinha que é um mimo.
Mas os três foram ESPETACULARES!!!
Sem manias, amigos de todos nós, disponíveis, atentos, cuidadosos. Sabiam “ler-nos” e sabiam “cuidar” de nós de acordo com as nossas sensibilidades, coisas menos boas e coisas muito boas!
Os meus colegas passaram a ser todos meus “sobrinhos”. Eu era a “tia” de todos por ser a mais velha.
Ainda hoje quando “falo” com eles me despeço com um “beijinho da tia”.
Nunca mais vi ninguém. Quer dizer, o Facebook e o Instagram contam, certo?
Mas aqueles 7 meses estão muito vivos em mim.
Sete meses de muita partilha, de muitas emoções, de muita aprendizagem.
Escrevemos, encenámos, ensaiámos…fizemos tudo do zero. E no final, no dia da apresentação de tudo o que fizemos no tempo em que estudámos, apresentámos uma grande peça! Mas mesmo uma peça TOP!!
Nem vos digo, nem vos conto a cambada de nervos em que estava minutos antes de subir ao palco.
Tenho muito má memória, e o Alzheimer de facto “corre”-se-me nas veias, e sendo toda descoordenada, ter de cantar, dançar, dizer as falas e sorrir tudo ao mesmo tempo… digamos apenas que o medo de fazer merda era gigante.
MAS NÃO FIZ!!!!!
CORREU TUDO SUPER MEGA HIPER BEMMMMM!!!!!!
Mais um objetivo cumprido. Mais um curso feito. Mais 7 meses de boas memórias, risos, sorrisos e muito companheirismo.
Amo todos os meus colegas. Tenho saudades deles. Muitas.
Guardo todos no meu coração e volta e meia dou por mim a ver o video da coisa e as fotografias.
E bolas, os nossos professores eram uns super-professores!
A Ana uma verdadeira força da natureza. Um lindo furacão! Um coração de ouro de uma sensibilidade incrível.
O Carlos era o mais experiente. Sempre com histórias para partilhar, técnicas para ensinar e um “bora lá pessoal” essencial para que a coisa avançasse.
O meu padrinho, o Miguel, ensinou-nos o que é ter tesão pelo teatro, respeito pelas tábuas. Não esqueço jamais o que aprendi com ele. Generoso, amigo, de uma calma que acalma. Seguro. Maravilhoso.
Foram sete meses espetaculares e todos os dias tenho cada vez mais saudades daquele tempo e de todos com quem os vivi.
Obrigada a todos vocês que serão sempre os meus “sobrinhos”. Obrigada aos meus professores / mestres.
E o bicho ficou…e quem sabe ainda não viro atriz?
Never say never.
21 Agosto, 2018